Olá, tudo bem? Hoje eu vim te contar
sobre a minha leitura de abril, que desde já, me perdoe pelo trocadilho, mas me
abriu um mundo. Falo de "Presos que menstruam", da jornalista e
escritora Nana Queiroz, sobre a vida real de mulheres nas prisões brasileiras.
Eu indico muito pra você que quer sair do senso comum, pois é uma obra
reflexiva, que vai te fazer pensar, assim como me fez. Perguntas como
"será que tem absorvente suficiente nas cadeias?" ou "como
é ser uma mãe presa?" são apenas algumas das questões que permeiam o
livro.
Para quem não sabe, Nana é a criadora
da revista "Azmina",
de conteúdo feminista. Sua preocupação com estudos de gênero vem desde a
faculdade, e para a escrita da sua publicação ela ficou seis meses em contato com
presidiárias. O resultado foi um livro potente, angustiante e revoltante.
Afinal, ler as histórias das mulheres nas prisões e imaginar a vida de
cada uma é entrar em um mundo de dor, medo, solidão e insalubridade. Mas
não somente, as páginas também nos mostram muita resistência.
O que a autora trouxe para nós, leitores, é uma história que
precisava ser contada e entendida de forma humana, diferente das que costumamos
ouvir nos grandes veículos midiáticos. Há relatos de precarização na higiene
das celas, violência por parte dos policiais e péssimas condições de
alimentação. O peso e muitas vezes a culpa de se estar à margem da sociedade
são contados por Nana, mas a falta de afeto não é omitida. As presas sentem, e
sentem muito. Não deixam de serem humanas quando passam pelas grades, mas quantas
vezes ouvimos na TV ou mesmo nos meios alternativos notícias sobre presos do
sexo feminino? Garanto, poucas vezes. Mas essas mulheres existem, mesmo que os
homens ocupem a maior parte da população carcerária do país.
"Presos que menstruam" nos
aproxima tanto das personagens, que em certos momentos me senti também nos
presídios, ouvindo e enxergando cada mulher. Para quem ainda não se deixou
levar pelo discurso amplamente disseminado na mídia de que bandido bom é
bandido morto não tem como não finalizar o livro sem ter um mínimo de empatia
pelas presidiárias que, antes de presas são mulheres, são mães, e como já
disse, humanas.
Tem uma frase da Malala Yousafzai que diz que "não podemos todos ser bem-sucedidos quando metade de
nós está restringida", e acho que é exatamente isso. Não, não estou
aqui defendendo atos ilegais ou o que quer que seja, mas precisamos fazer uma
reflexão mais profunda: de onde vem esses 5% de mulheres encarceradas? Um número
substancialmente menor do que a quantidade de presos homens, entretanto elevado
comparado à realidade de outros países. Isso não quer dizer nada?
"Se o Estado não reconhece que acontece, ele não tem que se responsabilizar pela prevenção." -Presos que menstruam
Pois bem, trago um
dado (mais um): de acordo com o Infopen Mulheres 2018, das presas mulheres
50% possuem faixa etária entre 18 e 29 anos, isto é, são jovens. 62% são
negras, com baixa escolaridade, e 74% são mães. Podemos ver assim que
faltam políticas públicas de acolhimento e acesso à educação para essas que são as Gardênias, Júlias e Marias de Nazaré, como
apresentadas no livro. Essas que menstruam ou atingiram a menopausa. Todas
mulheres, além do sexo, da fragilidade e da força, representadas em um livro
que precisa ser lido por todos e todas.
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